ABM - Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração

Especialistas debatem a utilização de agregados siderúrgicos durante 6º edição da ABM WEEK

Profissionais da indústria do aço do Brasil e exterior falaram sobre possíveis aplicações desse material de forma sustentável e lucrativa.

A necessidade de buscar destinações sustentáveis e lucrativas para os coprodutos da siderurgia tem feito a indústria olhar cada vez mais de perto para as possíveis aplicações deles em diferentes segmentos. Apesar de isso já ocorrer com sucesso em diversos lugares do mundo há anos, é evidente a carência de normas e padrões para a utilização desse tipo de material, tanto no Brasil quanto no exterior, o que muitas vezes acarreta um emprego mais baixo do que o possível dos coprodutos em outras atividades produtivas. 

Além do maior reaproveitamento de matérias-primas, o menor impacto ambiental e o retorno financeiro são pontos importantes a serem considerados nessa discussão. E para debater esse tema foi realizada a mesa-redonda Agregado siderúrgico durante o primeiro dia da 6º edição ABM WEEK, na terça-feira (7/6). 

Divididos em duas rodas de conversa, importantes nomes da indústria nacional e internacional estiveram presentes, como Thomas Reiche, diretor administrativo do FEhS (Institut für Baustoff-Forschung e.V.) e presidente da Eurolasg, David Vilas Boas de Campos, pesquisador na área de fertilizantes da Embrapa Solos, Patrício José Moreira Pires, professor associado da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Cassius Cleber Cerqueira, gestor de Coprodutos da Gerdau, entre outros.

Com abertura dos dois painéis feita por Leila Kauffmann, gerente de Coprodutos da ArcelorMittal, e moderação de Luiz Cláudio Pinto Oliveira, sócio-gerente da Ensoreso Consultoria, os convidados debateram a padronização e aplicações práticas do agregado siderúrgico e sua sustentabilidade. Como destacada por Kauffmann logo no início, “é importante que alinhemos o conceito, pois quando chamamos de ‘rejeitos’, não estamos agregando valor”, e isso passa pela criação de normas e padrões para o mercado, assim como por uma certa pressão nos órgãos públicos para mostrar o valor desta matéria-prima transformada, como completou a executiva.

A reutilização dos materiais torna-se cada vez mais necessária, ainda mais em um contexto que busca reduzir a geração de produtos por questões ambientais. E nesse ponto, estamos falando não apenas dos impactos da extração do mineral em si, mas também do aço produzido em todas as suas etapas. 

“A União Europeia determinou metas de redução de CO2 bastante ambiciosas, o que requer uma transformação fundamental de processos, especialmente da cadeia integrada de produção de aço”, explicou o alemão Thomas Reiche. “Na atual discussão sobre a alocação de CO2 a nível europeu, a manufatura do aço tem que ser considerada”. O pesquisador da FEhS ainda destaca que, na Alemanha, a regulação do uso de materiais agregados principalmente no mercado de construção e infraestrutura já se estende por quinze anos, incluindo até mesmo o seu uso em fertilizantes.

O painel trouxe também exemplos práticos de como os agregados siderúrgicos já estão sendo utilizados no Brasil e estudos para o seu crescimento. O Prof. Patrício Pires e o coordenador de obras da Rodovia SA, Maurício Cavalli Júnior, mostraram como o produto Sidercal está em uso na ampliação da Eco 101, no Espírito Santo.  Em diferentes trechos da rodovia nas várias fases do projeto, a equipe de pesquisa liderada por Pires demonstrou que a utilização dos coprodutos na composição do pavimento da estrada atendia a todos os parâmetros de qualidade estabelecidos de maneira prévia, até mesmo respondendo melhor do que os materiais “puros”.  Pires ainda ressaltou a preocupação em relação aos impactos na natureza que seus estudos possuem. “Sempre que utilizamos resíduos siderúrgicos, a primeira questão é sobre os parâmetros ambientais”. Em sua apresentação sobre o projeto, o executivo da Rodovias SA fez eco às preocupações, mas também à animação do professor da UFES, e ainda trouxe um ponto importante quando pensamos em mercado. “No mundo corporativo, não dá para não falarmos de custos, e com o uso de sub-base comparado ao pavimento tradicional, tivemos uma economia estimada de 70%”, afirmou.

O pesquisador capixaba ainda destacou em sua fala algo que deve nortear esse campo no futuro próximo: “Nosso objetivo é produzir um coproduto melhor como base, não apenas reutilizar”.

Durante todo o painel, os palestrantes ainda trouxeram exemplos como os benefícios do uso de agregados siderúrgicos na agricultura, o aço brita como solução técnica e ambiental em rodovias e ferrovias, mais usos dos coprodutos de aço em obras de engenharia geotécnica, as diversas oportunidades da utilização do agregado siderúrgico em aterros sanitários, e mais. Tudo isso mostrando que ainda há muito espaço a ser explorado com a utilização desses materiais muitas vezes relegados a um segundo plano. Como posto por Leila Kauffmann e o Prof. Patrício Pires, já são conhecidas as tecnologias para o emprego de praticamente todos os tipos de agregados siderúrgicos e para a sua aplicação não seria necessário mudar nada nos processos atuais.

Como frisado durante a primeira parte da mesa, seja no Brasil ou na Europa, uma melhor regulação e padrões mais específicos são o que falta para que o agregado siderúrgico seja considerado um coproduto “real”, como colocado por Thomas Reiche, e sua utilização decole de vez, ainda mais em uma época em que é preciso diminuir de maneira urgente o impacto ao meio ambiente. “Às vezes esquecemos que a população do mundo continua crescendo, e precisaremos desses materiais”, profetiza o pesquisador alemão.

A 6ª edição da ABM WEEK tem a Gerdau como anfitriã e conta com o patrocínio das seguintes empresas: Açokorte, Air Liquide, Alkegen, Amepa GmbH, Aperam, ArcelorMittal, Atomat Services, AutoForm, BM Group/Polytec, BRC, Braincube, CBMM, CEMI, Combustol, Clariant, Danieli, Dassault Systèmes, DME Engenharia, Eirich, Enacom, Engineering, Evonik, Fosbel, GSI, Harsco, Hatch/CISDI, Ibar, Imerys, IMS Messsysteme GmbH, Isra Vision Parsytec, John Cockerill Industry, Kuttner, Metso Outotec, Nalco Water/Ecolab, Nouryon, Primetals Technologies, PSI Metals, Reframax , RHI Magnesita, Saint-Gobain, SMS Group Paul Wurth/ Vetta, Spraying Systems, Suez, SunCoke, Tecnosulfur, Ternium, Timken, Thermo Fischer, TopSolid, TRB, Unimetal, Usiminas, Vale, Vamtec, Vesuvius, Villares Metals, Wallonia.be (ADI – Industrial Services, John Cockerill Hydrogen, BorderSystem, Datanet International, Synthetis e PEPITe), White Martins e Yellow Solution. Apoio especial: CNPq. Apoio institucional: Abal, Abendi, AIST, AIST Mena, Alacero, Casa de Metal, CBCA, Elsevieir, Ibram, ICZ e Instituto Aço Brasil. Apoio de mídia: CIMM e Ind4.0

Texto: José Enrico Teixeira

Deixe seu comentário

Assine a newsletter

e fique por dentro de tudo sobre Metalurgia, Materiais e Mineração.