ABM - Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração

Mineração precisa de inovação para ser mais ecoeficiente

No último dia da ABM WEEK 2017, uma mesa-redonda para debater os desafios da mineração no Brasil chegou a duas conclusões principais: a primeira é a de que as empresas precisam adotar novos sistemas de trabalho e soluções tecnológicas inovadoras se quiserem agregar produtividade e sustentabilidade às suas atividades.

Outra constatação dos participantes foi a de que a exploração de agregados para a construção e o manejo apropriado dos resíduos também estão amarrados à implementação de políticas públicas mais adequadas.

“As melhores minas já foram lavradas. Restam apenas as localizadas em áreas distantes e com dificuldades de acesso. Paralelamente, as indústrias de mineração e metalurgia recebem pressões enormes de outros setores econômicos e da sociedade como um todo. Para sobreviver, a resposta é inovar”, enfatizou Arthur Pinto Chaves, professor da Poli-USP, durante o encontro, que aconteceu em 5 de outubro, no Pro Magno Centro de Eventos, em São Paulo.

Entre os desafios que a indústria da mineração deve superar, Chaves assinalou como emblemático o caso das barragens de rejeitos, uma metodologia barata para o depósito de rejeitos do beneficiamento que, por conta de acidentes, tem sofrido restrições no licenciamento. “Duas soluções foram desenvolvidas para contornar o problema: o beneficiamento a seco e o dry stacking, ou empilhamento a seco”, afirmou.

O beneficiamento a seco é possibilitado por uma nova classe de equipamentos, as peneiras com acionamento em movimento helicoidal. Já a metodologia dry stacking, que exige espessadores de potência elevada (de alto custo no Brasil) e clima relativamente seco, precisou ser adaptada às condições locais. “A alternativa foi desenvolver um dry stacking modificado, que consiste no espessamento seguido do desaguamento em filtro prensa”, explicou Chaves.

Mapeamento necessário

No setor de produção de areia e brita, quaisquer medidas que objetivem a inovação precisam levar em conta que dois terços do custo final desses produtos correspondem ao frete. Fernando Valverde, presidente executivo da Associação Nacional das Entidades de Produtores de Agregados para Construção (Anepac), destacou que prevalece a visão distorcida de que esses recursos são abundantes, mas a cadeia como um todo já sente os gargalos estruturais. “Há uma redução cada vez maior da disponibilidade de jazidas. O planejamento da atividade nos planos diretores municipais é vital para o setor”, analisou, reforçando que atualmente a areia viaja 200 quilômetros de caminhão até a região metropolitana de São Paulo, por exemplo.

Segundo Valverde, é urgente fazer um levantamento sistemático dos bens minerais disponíveis no Brasil, de forma a embasar o planejamento estratégico de Estados e municípios. Entre as medidas estruturantes para o futuro próximo, Valverde salientou que é preciso consolidar o Plano Nacional de Agregados, fortalecer institucionalmente a mineração nos Estados, com a contribuição de leis de aproveitamento dos recursos minerais, e promover as adequações tributárias e ambientais necessárias.

Tecnologias ecoeficientes

Tecnologias desenvolvidas com foco no aumento da produtividade e na redução do impacto ambiental na mineração ajudam as empresas a conquistarem operações mais sustentáveis. Durante o evento da ABM, Reginaldo Liberato, diretor da Outotec, expôs as possibilidades técnicas dos sensores para identificação e separação automática de minério bruto produzidos pela empresa. Lançando mão de diferentes tecnologias, como transmissão de raio-X, fotometria e eletromagnetismo, os sensores identificam propriedades dos materiais como densidade atômica, reflexão, absorção, dispersão, condutividade ou permeabilidade, sendo capazes de analisar metais básicos, preciosos, minerais industriais e escória. “O consumo de água cai substancialmente com a menor quantidade de material a ser processado. Além disso, com essa tecnologia, viabilizamos materiais considerados marginais”, explicou.

Henry Kurth, consultor de minerais da Scantech, falou sobre as vantagens da análise de ativação de raios gama prontos através de nêutrons (PGNAA, na sigla em inglês). “Uma das vantagens dessa tecnologia é que se pode tomar decisões durante a operação com relação ao material que deve ou não ser processado, evitando processamento desnecessário”, explicou Kurth.

Inovações na área de britagem e peneiramento foram abordados por Edis Nunes, especialista em sistemas de britagem para a América do Sul da Metso. Em palestra no evento da ABM, ele discorreu sobre soluções como as peneiras elípticas, que evitam o entupimento das telas, agregando mais eficiência às operações com minérios metálicos e não metálicos difíceis de peneirar.

Resíduos de construção

A otimização do uso de recursos minerais também passa pela maior reciclagem dos resíduos de construção e demolição (RCDs), enfatizou Francisco Mariano de Souza Lima, pesquisador do Centro de Tecnologia Mineral (Cetem) do Ministério da Ciência e Tecnologia. “A gestão adequada dos RCDs envolve atividades estratégicas para reduzir a geração e promover coleta, reuso, reciclagem e descarte”, enumerou.

Souza Lima revelou que uma medida fundamental para aumentar a taxa de reciclagem de RCDs no Brasil é garantir que não haja mistura de diferentes tipos de resíduos ainda na origem. “Em parceria com a Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição (Abrecon), estamos estruturando algumas iniciativas para estimular a demolição seletiva no país”, declarou.

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