ABM - Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração

Tecnologias para descarbonização da indústria siderúrgica são discutidas na 4th EMECR

Conferência internacional sobre a sustentabilidade na indústria do aço é realizada pela primeira vez no país e reúne especialistas do Brasil e de várias partes do mundo.

No primeiro dia da 6ª ABM WEEK ocorreu a abertura da 4 th EMECR – International Conference on Energy and Material Efficiency and CO2 Reduction in the Steel Industry, conferência internacional que é realizada pela primeira vez no Brasil. Participaram nomes importantes nacional e internacionalmente na questão da redução das emissões de carbono e inovações tecnológicas na indústria do aço.

“Temos hoje cinco palestrantes excelentes. O processo industrial de produção de aço vem evoluindo há 200 anos e já foi muito otimizado, e para aumentar a eficiência é necessário mudar os conceitos”, afirma José Noldin, chairman da conferência. 

Foram entregues homenagens a dois profissionais com trajetória de destaque na implementação de novos processos: Pinakin Chaubal, CTO do grupo ArcelorMittal, e Marcos Contrucci, fundador da Gavea Tech e desenvolvedor do Tecnored.

Chaubal está à frente de todos os processos tecnológicos envolvidos nas operações da ArcelorMittal no mundo e falou sobre os desafios globais da descarbonização da indústria siderúrgica. “As próximas décadas serão um período muito desafiador, mas também muito estimulante”, comentou. 

A meta da ArcelorMittal sua empresa é reduzir 25% as emissões de carbono até 2030, e “pela primeira vez temos um roteiro que mostra o caminho para neutralidade de carbono em 2050”. O caminho é sustentado por três eixos combinados: carbono circular, captura e armazenamento de carbono, e energia limpa.

Made in Brasil

A combinação de diferentes soluções também foi mencionada por Marcos Contrucci: “A solução não vem de um lugar só, precisamos de todas as alternativas”. Sua palestra abordou o inovador Tecnored, um processo de produção de ferro gusa que utiliza um briquete “autorredutor”, composto por finos de óxido de ferro e um redutor de carbono (carvão ou bio-carvão), que substitui o alto-forno. “É um processo de redução tão pouco conhecido, e só existe aqui no Brasil”, conta o criador da tecnologia.

Com sua marcante personalidade, Contrucci discorre facilmente sobre Revolução Industrial, mistura gás-sólido, a remoção do dióxido de carbono da missão Apollo 13, Carl Sagan, Martin Luther King Jr., e trouxe uma expressão que foi rapidamente entendida e adotada por outros participantes do evento: “Falamos em descarbonizar, mas precisamos recriar essa ideia, o que precisamos é ‘desfossilizar’”.

Plenária

No segundo momento da abertura do 4º EMECR ocorreram as plenárias, começando com Ricardo Carvalho Nascimento, CEO da Aço Verde do Brasil, a primeira siderúrgica carbono neutro do mundo. A metodologia de mensuração vem do protocolo GHG (Greenhouse Gas Protocol) usado pelo IPCC da ONU, encontrada na ISSO 14064-1:2006 – Greenhouse gases.

A AVB utiliza biomassa em toda sua produção e reutiliza os gases em todo o processo. “Quase todas as siderúrgicas do mundo usam fonte fóssil para reaquecer o laminado, nós usamos a tecnologia regenerativa, e os gases oriundos do alto forno a carvão vegetal aquecem nosso tarugo. Então, vencemos o último desafio e nos tornamos carbono neutro”, conta Carvalho.

A empresa agora está em testes para um forno para produção de carvão vegetal, cujos resíduos podem até ser usados como fertilizantes na agricultura.

Julia Attwood, head de materiais sustentáveis da Bloomberg NEF em Nova York, estuda as emissões de carbono em diferentes indústrias por todo o mundo. Ela reforça que, dentre a gama de tecnologias que permitem a redução de carbono, cada país vem escolhendo caminhos próprios. “Nós havíamos feito um modelo em escala global, mas hoje trabalhamos os países individualmente”, explica.

Attwood trouxe estudos sobre a perspectiva para os próximos anos. “Em 2030 os custos serão menores, muitos países utilizarão energia solar, o hidrogênio ficará mais competitivo se comparado ao gás natural”. Uma das únicas incertezas ainda é o hidrogênio: “Há muitos estudos acadêmicos sobre a quantidade de hidrogênio necessária para produção do aço, mas sabemos que na vida real os números são mais altos. Essa será a diferença entre ele ser caro ou extremamente caro”, pondera.

A pesquisadora finaliza com uma avaliação: “A indústria do aço é responsável por 8% das emissões de carbono e precisa de um investimento de apenas 0,2% do total global necessário para atingirmos a neutralidade”.

O diretor de Metálicos da Vale, Steve Potter, trouxe ao evento as metas da empresa para descarbonização. A companhia pretende reduzir 15% das emissões até 2035.

Para isso, estão sendo adotadas quatro frentes, começando pela briquetagem fria, adotada desde 2017 e que começará com experimentos industriais neste ano. A segunda tecnologia é a dry concentration, solução de separação magnética desenvolvida no Brasil.

O biocarbono é um propósito ainda sendo estudado. “Não é fácil nem barato. Mas a biomassa pode trazer riqueza a comunidades em áreas degradadas”, conta Potter. “São toneladas disponíveis, ela é uma solução. Parece que o mundo não quer ouvir, mas é uma realidade.”

Por último, Potter falou da adoção pela Vale do sistema Tecnored, de Marcos Contrucci. Uma unidade que fará uso da solução está sendo construída em Marabá (PA) e deve iniciar operações em 2025.  “Seu legado, Marcos, está a salvo”, disse o diretor da Vale para o colega.

A 6ª edição da ABM WEEK tem a Gerdau como anfitriã e conta com o patrocínio das seguintes empresas: Açokorte, Air Liquide, Alkegen, Amepa GmbH, Aperam, ArcelorMittal, Atomat Services, AutoForm, BM Group/Polytec, BRC, Braincube, CBMM, Combustol, Clariant, Danieli, Dassault Systèmes, DME Engenharia, Eirich, Enacom, Engineering, Evonik, Fosbel, GSI, Harsco, Hatch/CISDI, Ibar, Imerys, IMS Messsysteme GmbH, Isra Vision Parsytec, John Cockerill Industry, Kuttner, Metso Outotec, Nalco Water/Ecolab, Nouryon, Primetals Technologies, PSI Metals, Reframax , RHI Magnesita, Saint-Gobain, SMS Group Paul Wurth/ Vetta, Spraying Systems, Suez, SunCoke, Tecnosulfur, Ternium, Timken, Thermo Fischer, TopSolid, TRB, Unimetal, Usiminas, Vale, Vamtec, Vesuvius, Villares Metals, Wallonia.be (ADI – Industrial Services, John Cockerill Hydrogen, BorderSystem, Datanet International, Synthetis e PEPITe), White Martins, e Yellow Solution. Apoio especial: CNPq. Apoio institucional: Abal, Abendi, AIST, AIST Mena, Alacero, CBCA, Ibram, Instituto Aço Brasil, CIMM, Ind4.0.

Texto: Luciana Tamaki

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